Com xícaras de café fumegante na mão, eu e os demais jornalistas presentes na sala de reunião do ATP (Automotive Testing Papenburg, ou centro de testes automotivo de Papenburg), na Alemanha, brigávamos contra o cansaço causado pela viagem e pela diferença de fuso horário, mas seguíamos concentrados.
À nossa frente, Michael Staude, gerente de testes de pneus e rodas da empresa Tüv Süd, explicava os procedimentos que realizaríamos nos próximos dias. Fomos a um dos mais avançados complexo de testes do mundo para avaliar pneus de quatro marcas comercializados no Brasil, na medida 205/55 R16: Bridgestone Turanza ER300 (cujo preço médio é R$ 374), Goodyear Efficientgrip Performance (R$ 364), Pirelli Cinturato P7 (R$ 370) e Michelin Primacy 3 (R$ 386). Todos os preços foram cotados em São Paulo, SP.
“Sabemos que falhas humanas são os maiores causadores de acidentes no trânsito, e pneus de melhor qualidade podem ajudar a contornar esses erros”, explicou Staude. “Por esse motivo, nosso foco é a segurança”, acrescentou. Vale explicar que o Tüv Süd é uma das maiores empresas independentes de teste e de avaliação de componentes de diversos tipos, e existe há 148 anos.
Este comparativo de pneus foi encomendado pela Michelin, que, apesar disso, somente teve acesso aos resultados com os jornalistas presentes. Tivemos a oportunidade de repetir os testes feitos pelos especialistas do instituto a fim de conhecer todos os procedimentos, sentir as respostas dos diferentes pneus ao volante e comparar nossos resultados com os obtidos pelos avaliadores — embora os números utilizados nesta reportagem sejam apenas os obtidos pelos profissionais do Tüv Süd.
Os pneus avaliados no teste foram adquiridos no Brasil e enviados à Alemanha pelo próprio instituto e posteriormente submetidos a diversos testes realizados no ATP. São eles: frenagem em piso seco e em piso molhado (com ABS), aderência lateral em curvas molhadas e dirigibilidade em pista seca (com ABS e ESP desativados), nível de ruído e resistência a impacto.
Com exceção do teste de impacto, em que foi utilizado um Audi A4 1997, as demais avaliações foram realizadas usando a sétima geração do Volkswagen Golf, equipado com motor 1.4 TSI e câmbio manual.
A HORA DA VERDADE
Após deixarmos o café alemão de lado, fomos para a pista realizar a primeira atividade: frenagem em asfalto molhado de 80 km/h a 20 km/h, avaliação na qual já foi possível perceber diferenças sensíveis entre os pneus: enquanto os Michelin Primacy 3 necessitaram de 29,8 m para reduzir a velocidade em 60 km/h no piso com baixa aderência, os Bridgestone Turanza ER300, precisaram de 35,7 m — aferidos com equipamento V-Box, similar ao usado pela CARRO em seus testes. Já o Goodyear Efficientgrip Performance e o Pirelli Cinturato P7 cumpriram a mesma avaliação em 34,8 m e 34,4 m, respectivamente.
Na frenagem de 100 km/h a 0 sobre piso seco, o quadro de resultados apresentou alterações: o Michelin Primacy 3 manteve a melhor marca com 35,4 m, mas o Bridgestone Turanza ER300, que havia exibido o pior resultado sobre pista molhada, foi o segundo melhor, com 37,4 m. Em seguida, ficou Goodyear Efficientgrip Performance, com 39 m, enquanto o Pirelli Cinturato P7 ficou com a quarta colocação, com 39,4 m.
Um dos testes mais interessantes no ATP foi o de aderência lateral em pista circular. Com os controles eletrônicos de tração e de estabilidade desligados para não mascarar o comportamento dos pneus, a atividade consistiu em realizar doze voltas na pista com raio de 42 m buscando alcançar os tempos mais baixos, mas mantendo a constância — e tentando evitar náuseas.Bridgestone Turanza ER300
O modelo que decepcionou nessa situação foi o Turanza ER300, não apenas por registrar a menor capacidade de tração (evidenciado pelo maior tempo de volta), mas por ser pouco comunicativo quando no limite da aderência, além de instável nessas condições — especialmente no eixo traseiro. Os demais pneus não apresentaram tendência de perda de tração no eixo traseiro e mostraram reações consideravelmente mais previsíveis. O destaque foi para o Michelin: além de mais rápido, ele consegue “avisar” o condutor quando está próximo do seu limite de aderência.
No teste de dirigibilidade em piso seco, realizado em um circuito com 2.600 m de extensão e 13 curvas, a velocidade média registrada pelos quatro pneus ficou bastante próxima. Todavia, o comportamento do automóvel era significativamente diferente, de acordo com cada componente. O Pirelli Cinturato P7 mostrou maior tendência ao travamento das rodas nas frenagens e facilidade em perder tração nas saídas de curva, e assim, acabou registrando o pior tempo.
O Goodyear Efficientgrip Performance — o segundo mais lento no teste — agradou pela capacidade de tração nas saídas de curva e mostrou-se neutro e de dirigibilidade agradável. Michelin e Bridgestone acabaram sendo os mais rápidos, mas com respostas distintas durante a condução: o Primacy 3 mostrou respostas ágeis, mas mantendo o conforto e a comunicação ao volante.
O Turanza ER300 exibiu capacidade de tração semelhante ao do Michelin nessas condições, mas, com respostas muito imprevisíveis, principalmente no eixo traseiro — tornando-o divertido de usar em uma pista, mas menos estável para o condutor comum no uso diário.
No fim das avaliações, ficou claro que um bom pneu nesse segmento é aquele que consegue ser o mais constante nas provas, ou seja, trata-se do equipamento que apresentará a menor possibilidade de surpreender o motorista em situações adversas, seja no trânsito, seja em estradas. E nesse caso, o Michelin Primacy 3 acabou revelando-se a melhor escolha.
TESTE DE IMPACTO E AS MEDIDAS
Segundo o Tüv Süd, o teste de impacto não é um procedimento com requisição oficial em nenhum lugar do mundo, mas trata-se de uma avaliação criteriosa para conhecer a resistência dos pneus (quando calibrados corretamente) ao enfrentar situações adversas — infelizmente, normalmente encontradas nas mal-pavimentadas vias brasileiras. Assistir aos pneus serem golpeados até não resistirem durante a prova é impressionante, mas tudo foi feito em nome da segurança. A medida 205/55 R16, por sua vez, foi escolhida por ser cada vez mais utilizada em hatches e sedãs médios, atualmente.
FATOR DE CORREÇÃO
Com a experiência de já ter testado e homolagado mais de 150.000 produtos em seus 148 anos de existência, o instituto independente Tüv Süd aplicou o conceito de interpolação linear para avaliar os quatro diferentes modelos de pneus. Nesse procedimento, o primeiro pneu (P1) é selecionado para a avaliação e, na sequência, os demais (P2, P3 e P4) eram submetidos às mesmas avaliações. No fim da bateria, para se certificar que não houve variação nas condições de teste — as mudanças climáticas que ocorrem ao longo do dia influenciam na temperatura da pista, por exemplo —, o veículo voltava a ser equipado e testado com o P1 para verificar se não havia divergência em relação ao primeiro teste. Em caso positivo, foi calculado o percentual de variação entre o primeiro e o último teste, dividido em quatro partes e debitado nos resultados de P2, P3 e P4, de forma a equalizar as condições de avaliação. Segundo o Tüv Süd, o veículo escolhido para os testes dinâmicos foi um Volkswagen Golf MK VII por sua robustez mecânica, necessária para suportar as provas repetitivas, além de ele ser um veículo global.
Deixe uma resposta
Want to join the discussion?Feel free to contribute!